quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Pedido ao meu filho


Meu filho fez 17 anos. Ele é um rapaz lindo: alto, moreno, cabelos ligeiramente anelados, olhos verdes, cílios longos, feições finas. Parece muito comigo. É carismático e sensível. Tem um humor sarcástico, com tiradas singulares que fazem de suas frases pérolas para a gente rir e não esquecer. Adora música, poesia, futebol e escrever - principalmente sobre a vida e o amor. É romântico e carinhoso, por isso quando se apaixona arria os quatro pneus e trata a menina como se fosse princesa. Mas quando o namoro acaba é uma fossa que não tem fim (até que um dia ela acaba, graças a Deus).

Como grave defeito, percebo que ele é muito fechado, pois não expõe facilmente seus sentimentos e dúvidas interiores. E eu vejo isso com dor no coração, pois eu fui assim por muito tempo e sei muito bem o preço que isso poderá lhe custar no futuro. É também possuidor de uma preguiça mental imensa, contra a qual eu fiz o que eu pude para lutar conta durante sua vida estudantil. Semanas atrás eu entendi a razão desse defeito: um QI de 126. Como tem facilidade para entender, tem preguiça para se esforçar. Com isso deixava de estudar o suficiente para passar de ano sem ficar em prova final ou recuperação. Inteligência mal aproveitada.

Como não bastasse completar seus 17 anos, ele acaba de se formar no segundo grau do ensino médio. Dias antes da colação de grau, quando a ficha começou a cair na minha cabeça, foi que eu entendi a razão do ditado popular "filhos criados, trabalho dobrado". Na verdade, não é o trabalho que dobra, mas é a preocupação que cresce em progressão geométrica. Preocupação com o futuro da pessoa mais importante da vida de uma mãe. preocupação com um futuro ainda incerto, cheio de "se", pronomezinho irritante, que indica possibilidades boas e outras não tão boas assim.

E se ele não passar no vestibular? E se ele tiver que trabalhar para pagar a faculdade? E se ele fizer as escolhas erradas? Essa última pergunta é a que mais me dói o coração, pois é dela que surgem todas as preocupações. Com a vida adulta os pais deixam de ter o direito de interferir nas escolhas dos filhos e no caso de algo dar errado, não podem mais intervir contra a vontade da sua cria.

Um grande amigo de meu pai costuma dizer que a única coisa que os pais podem fazer é ajudar a ajeitar o arco e a flecha na posição que entendamos a mais perfeita. Contudo, no momento em que a flecha será atirada, será apenas pelas mãos de nossos filhos. E nesse momento a escolha será sempre deles. Unicamente deles.

É desesperador entender que criamos os filhos para soltá-los no mundo adulto e que, se eles assim optarem, podem recusar toda a proteção que estamos loucos para dar. Alguma vezes, para o próprio bem deles, os pais precisarão se recusar a dar a proteção que tanto desejam, o que doirá ainda mais em seus corações. Não encontro palavras para descrever como a dor de uma mãe pode ser imensa e pode nunca ter fim. É muito maior do que qualquer palavra que eu conheça, do que qualquer superlativo que eu possa imaginar.

Reconhecendo toda essa verdade, que surge diante de mim como conseqüência de um tempo que passa e de um novo tempo que chega, eu tenho um pedido ao meu filho, um pedido sincero e de todo coração: filho, por favor, escolha certo. E em qualquer escolha que fizer, tenha certeza de que fez o melhor de si para que tudo desse certo. Mas se alguma coisa der errado, não se esqueça de que eu estou bem atrás de você, de braços abertos.

Com amor, sua mãe.

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