quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mãe na adolescência, filho adolesceste

Como eu fui mãe dos 15 para os 16 anos, eu fui praticamente uma espécie de irmã mais velha do meu filho. Eu ia para a escola e minha mãe e a babá cuidavam dele para mim. Eu passei para a faculdade, a babá o levava à escola e minha mãe o ajudava com o dever de casa. Obviamente, ela dava mais broncas nele do que eu, pois era ela quem passava a maior parte do tempo com ele enquanto eu estava me preparando para ser uma profissional de sucesso na vida. Quando me formei e comecei a trabalhar em tempo integral e depois estudar para concursos à noite, me lembro de chegar em casa e ver meu filho deitado na cama, vendo seus desenhos favoritos. Assim que ele me via ele falava "Oiii". Normalmente eu imediatamente fazia meu prato e ia jantar ao lado dele, mas se eu demorasse mais de 5 minutos para estar ao seu lado, ele já estava dormindo.

Por isso, quando meu casamento acabou, resolvi sair do trabalho e me dedicar mais aos estudos para concurso público, trabalhando em casa como advogada autônoma. Desta forma eu teria mais tempo para passar com meu filho e acompanhar de perto seu desenvolvimento. E ser mais mãe ao invés de irmã mais velha.

Mas é claro que com uma diferença de apenas 15 anos, minhas influências culturais sobre ele não eram, digamos, das mais convencionais. Quando ele tinha apenas 9 anos, eu não parava de escutar um CD ao vivo do Legião Urbana (que tinha acabado de ser lançado). Ele odiava escutar aquilo todo dia, mas eu falava: você tem que escutar porque é Legião Urbana, faz parte do que você tem que saber na sua vida. Bruno hoje escuta mais Legião Urbana do que eu.

Eu ainda o levei ao seu primeiro show internacional de "rock": Avril Lavigne (esta é a razão das aspas). Minhas amigas me zoavam, dizendo que meu filho era a desculpa que eu usava para ir ao show. Sério: ela tem umas musiquinhas pré-adolescente legalzinhas, mas isso é música de fase da vida. Hoje meu filho não escuta mais Avril. Além disso, durante o show ela foi para a bateria tocar "Smell like teen spirits" e meus ouvidos doeram e minha cabeça quase estourou. Ela não sabia tocar este instrumento sagrado, estava horrível e aquela crinçada toda estava maravilhada gritando e aplaudindo. Sério. Ela até pode saber tocar guitarra e piano, mas bateria, naquela época, eu tenho certeza de que ela só fez isso porque estava bem longe dos críticos de música americanos. Provavelmente Kurt Cobain teria se suicidado de novo se tivesse ouvido isso. Mas valeu apena, pois ele não parava de me agarrar pelo pescoço, como se fosse me dar uma gratava, enquanto ficava pulando de alegria e me enchia de beijos.

Fez parte da minha vida de mãe precoce ser a primeira pessoa a levar meu próprio filho à LAPA(!!!!!) para sentar num bar e incentivá-lo a experimentar fumar narguile, do qual gosto muito. Mas fumo sem nicotina, de preferência, já que eu nem meu filho fumamos.

Aliás, meu filho é praticamente o único de seu grupo de amigos que não fuma cigarro. Inclusive sei de várias broncas que ele já deu em amigos por fumar.

Também já o levei ao show do Rappa para comemorar seu aniversário de 16 anos. É claro que ele ficou com os amigos e eu fiquei longe deles o show inteiro.

Sim!!!!! Não posso esquecer. Levei meu filho, que na época estava com 17 anos recém feitos para fazer sua primeira (por enquanto) tatuagem. Fomos ao studio de um grande amigo em quem confio muito (pena que ele largou as tatoos) que fez a minha e paguei sozinha em 2 vezes com um dinheiro que me fazia falta. Conseguimos esconder este segredo da minha mãe e do pai dele por volta de uns 9 meses.

No ano passado, fomos no show do Capita Inicial eu, meu namorado, meu filho e sua namorada. Quando o Dinho Ouro Preto resolveu tocar com a banda uma música do Led Zeppelin, de improviso, eu disse a ele: "Filho, finalmente eu estou te trazendo ao um show de rock, pois o da Avril, definitivamente, não valeu!"

Também já levei Bruno à Cobal do Humaitá, o apresentei à caipirinha do Coelho na Lapa, enfim, essas coisas que não se espera que uma mãe faça pelo seu filho.

A choppada!!!! A choppada da turma dele foi na minha casa. E eu ajudei a comprar várias coisas e ainda tirei do meu bolso a grana para a carne do churrasco. Fui a pessoa que deu todo o suporte para eles se divertirem, emprestei o nargile e as meninas me adoraram.

Ontem, eu estava no Baixo Gávea com amigos e o chamei para ir me encontrar lá. Ele foi. E pela primeira vez na vida dele. E ele bebeu chopp. Afinal, ele já está com 19 anos e fazendo faculdade de Comunicação.

Acho que, no final das contas, eu fiz e ainda faço um bom trabalho, apesar dos métodos nada convencionais. Ele se tornou um homem de bem, carinhoso com amigas e namoradas e é muito boa gente.

Mas a sensação é de que o trabalho nunca termina. Pois uma mãe sempre vê seus filhos com os mesmos olhos e a mesma ternura de quem que colocá-los no colo e enchê-los de beijos, pois são a melhor bênção de Deus em nossas vidas.